quarta-feira, outubro 01, 2008

Sugestão de leitura

« "Kissinger vs. Carlucci" revela dados surpreendentes sobre os EUA e a Revolução dos Cravos. O PREC não mais será o mesmo.
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"Com o desfecho da crise de 28 de Setembro de 1974 (que levou à resignação de Spínola de Presidente da República e sua substituição por Costa Gomes), Kissinger adoptou uma posição de pessimismo. As barricadas populares que impediram a manifestação da chamada "maioria silenciosa" levaram-no a rever as peripécias da revolução russa de 1917. Uma primeira consequência foi a decisão de substituir o embaixador Scott por Frank Carlucci, que o livro classifica como "um 'hard-liner' com vasta experiência em situações revolucionárias". Sugerido pelo seu amigo Vernon Walters, número dois da CIA, Carlucci chegou a Lisboa em Janeiro de 1975. A anterior equipa era, no dizer de um alto funcionário de Washington, "a pior do mundo". Carlucci renovou todo o pessoal dirigente, trazendo consigo cinco homens experientes e capazes de tudo. "Tudo o que a CIA fez foi sob o meu comando", assumiu Carlucci, numa entrevista aos autores. "A CIA era parte da equipa e eles faziam o que lhes mandava." A afirmação não poderia ser mais clara - e só não se entende que tenha sido remetida para uma breve nota de pé de página.

Estabeleci o objectivo de encontrar-me com três dirigentes políticos por dia ao longo dos dois primeiros meses" - incluindo o cardeal patriarca, com quem se encontrou várias vezes. Os EUA ainda não tinham perdido a esperança de inverter o processo português. Foi a segunda fase, de envolvimento "de baixa intensidade".

No 11 de Março, e tal com no 25 de Abril, os serviços americanos voltaram a falhar. Todos os alertas tinham ido para "as tácticas perturbadoras da extrema-esquerda", senão mesmo para um "possível golpe comunista". Afinal, foi Spínola e a extrema-direita quem avançaram. A 14 de Março Carlucci não duvidava: "A tentativa de golpe foi genuinamente da direita."

A partir daí, a diplomacia dos EUA arrastou-se num período de choque entre duas estratégias antagónicas. Para Kissinger, Portugal tinha entrado definitivamente na órbita comunista. Um caso perdido. Bateu-se por uma estratégia de "ostracização" ou quarentena, a que Carlucci respondeu com uma política contrária, de moderação e apoio. "Estou num 'comprimento de onda' totalmente diferente do de Carlucci", desabafou Kissinger numa reunião com os seus colaboradores, em Abril.

Um memorando secreto, elaborado por um dos seus conselheiros mais influentes, foi ao ponto de equacionar duas acções radicais: "Pôr termo ao papel activo de Portugal na NATO" e avançar com "uma acção concertada com a Espanha" - de carácter militar, entenda-se. Esta hipótese, contudo, viria a ser rejeitada pelo generalíssimo Franco num encontro com o Presidente Ford, em Maio, em Madrid. "Qualquer intervenção estrangeira seria prejudicial para os moderados porque uniria os portugueses contra quem os atacasse", argumentou Franco, seguro de que "o comunismo será rejeitado". (...)»

Fonte: Expresso

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