domingo, dezembro 24, 2006

Acho que o Pai Natal é o Karl Marx.


Faz agora um ano. Sentava-me aqui, neste computador, nesta sala, com este frio. Amargurava-me com a época festiva, preocupava-me com política. Sou daqueles que se preocupa com política. Sou daqueles que perde tempo a pensar. Gosto de pensar. As eleições presidenciais aproximavam-se. Preocupava-me que o Cavaco pudesse ganhar. Não sou daqueles que deixa de dormir por causa disso, mas preocupava-me. Empenhava-me, na medida do possível, para termos um presidente com espinha dorsal (quantas vezes usei esta expressão a tentar converter inconvertíveis!). Na altura, o candidato poeta fez-me sonhar, fez-me ter esperança, ter sonhos, fez-me ouvir. Acreditei. Pela primeira vez acreditava no que ouvia, gostava das pessoas que abanavam as bandeiras comigo, gritava com elas como se há 30 anos estivéssemos juntos. Não queria um Presidente em formato Excel. Não queria um Presidente da polícia contra polícia, polícia contra estudantes, polícia contra gente. Por todos os motivos não queria. Não quero, mas tenho-o. Já passou. Daqui a uns anos voltarei a preocupar-me.
O Natal, esse ficou. O Natal que todos os anos me fere. Do Natal gosto das músicas. São as únicas que ficaram com o sentimento. O resto esvaneceu-se no consumismo, na pressa de comprar, agradar, comer, beber, cantar, agradar, comprar, vestir, embrulhar. Rezar? Não, não interessa. Mas as músicas são americanas! O Pai Natal não é americano!? O pai Natal tem colesterol, gosta de criancinhas e explora anões em fábricas do Norte. Diz-se que importa brinquedos da China. O pai natal é politicamente incorrecto. Aposto que o Pai Natal não se portou bem este ano. Nem eu.
O Sinatra está a cantar-me aos ouvidos “Whatever Happened To Christmas?”. Pergunto-me isso todos os anos. No Natal falta-me as crianças, o dinheiro, sobretudo a paixão. Desapaixonei-me pelo Natal há algum tempo. Nem sei bem porquê. Divorciamo-nos. Não foi bonito. Acontece. Para o ano farei outro texto sobre o assunto. Agora que penso nisso, será que o Manuel Alegre é o Pai Natal? Não, o Pai Natal não existe…

Whatever Happened To Christmas

Whatever happened to Christmas? It's gone and left no traces,
Whatever happened to the faces or the glow,
Whatever happened to Christmas, to Christmas way of living?
Whatever happened to the giving, the magic in the snow?
Remember the sight and the smell and the sound,
And remember hearing the call,
Remember how love was all around, whatever happened to it all?
Whatever happened to Christmas, bells in the streets were ringing,
Whatever happened to the singing, the songs we used to know.
Whatever happened to this Christmas, and when did it disappear from view,
Where was I, and whatever happened to you?
Whatever happened to Christmas and you?

Frank Sinatra

quarta-feira, dezembro 20, 2006

Acho que deixei de acreditar nos meus sonhos. "À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo"

O SONHO

Pelo sonho é que vamos,
Comovidos e mudos.
Chegamos?
Não chegamos?
Haja ou não frutos,
Pelo Sonho é que vamos.

Basta a fé no que temos.
Basta a esperança naquilo
Que talvez não teremos.
Basta que a alma demos,
Com a mesma alegria,
ao que é do dia-a-dia.

Chegamos? Não chegamos?

-Partimos. Vamos. Somos.

Sebastião da Gama, Pelo Sonho é que Vamos

segunda-feira, dezembro 11, 2006

"Are they coming?"

Descobri o vídeo no Arrastão.
As imagens enojam, revoltam, voltam a enojar.
Assim vai o mundo.
Não há muito mais a dizer.




sábado, dezembro 09, 2006

Fortunate Son

'Nam, Iraque, Afeganistão, Bush, same old shit, grande música. Hoje acordei com esta na cabeça.

"Fortunate Son"
Creedence Clearwater Revival

Some folks are born made to wave the flag,
ooh, they're red, white and blue.
And when the band plays "Hail To The Chief",
oh, they point the cannon at you, Lord,

It ain't me, it ain't me,
I ain't no senator's son,
It ain't me,
it ain't me,
I ain't no fortunate one, no,

Some folks are born silver spoon in hand,
Lord, don't they help themselves? oh.
But when the taxman come to the door,
Lord, the house look a like a rummage sale, yes,
It ain't me, it ain't me,
I ain't no millionaire's son, no, no.
It ain't me, it ain't me,
I ain't no fortunate one, no.

Yeh, some folks inherit star spangled eyes,
ooh, they send you down to war, Lord,
And when you ask them, how much should we give,
oh, they only answer, more, more, more, yoh,

It ain't me, it ain't me, I ain't no military son, SON, NO
It ain't me, it ain't me, I ain't no fortunate one, NO NO It ain't me, it ain't me,
I ain't no fortunate one, no no no, It ain't me, it ain't me, I ain't no fortunate son, son son son

sábado, dezembro 02, 2006

Queixa das almas jovens censuradas

Dão-nos um lírio e um canivete
e uma alma para ir à escola
mais um letreiro que promete
raízes, hastes e corola

Dão-nos um mapa imaginário
que tem a forma de uma cidade
mais um relógio e um calendário
onde não vem a nossa idade

Dão-nos a honra de manequim
para dar corda à nossa ausência.
Dão-nos um prémio de ser assim
sem pecado e sem inocência

Dão-nos um barco e um chapéu
para tirarmos o retrato
Dão-nos bilhetes para o céu
levado à cena num teatro

Penteiam-nos os crânios ermos
com as cabeleiras dos avós
para jamais nos parecermos
connosco quando estamos sós

Dão-nos um bolo que é a história
da nossa historia sem enredo
e não nos soa na memória
outra palavra que o medo

Temos fantasmas tão educados
que adormecemos no seu ombro
somos vazios despovoados
de personagens de assombro

Dão-nos a capa do evangelho
e um pacote de tabaco
dão-nos um pente e um espelho
pra pentearmos um macaco

Dão-nos um cravo preso à cabeça
e uma cabeça presa à cintura
para que o corpo não pareça
a forma da alma que o procura

Dão-nos um esquife feito de ferro
com embutidos de diamante
para organizar já o enterro
do nosso corpo mais adiante

Dão-nos um nome e um jornal
um avião e um violino
mas não nos dão o animal
que espeta os cornos no destino

Dão-nos marujos de papelão
com carimbo no passaporte
por isso a nossa dimensão
não é a vida, nem é a morte.

Natália Correia

Papamóvel demais

O papa foi à Turquia. Rezou virado para Meca. Mostrou a dentuça postiça nuns sorrisos quando alguém gritava “olhó passarinho”. Amenizou o clima de ódio que conseguiu criar no “mundo Muçulmano” depois das palavras proferidas há 3 meses atrás. Deu uns bacalhaus às individualidades importantes do Governo, Igreja Ortodoxa, Muçulmanos. Até aqui muito bem. Mas o Vaticano fez questão de se pronunciar sobre política externa. Manifestou-se a favor da adesão da Turquia à União Europeia. A questão que me parece óbvia, é simples: Mas por que raio anda o Vaticano a pronunciara-se sobre assuntos de politica externa da União Europeia?

Tem direito de o fazer? Claro, tal como qualquer cidadão ou instituição pública ou privada que coabite em democracia, é livre de se expressar como bem entender. Mas, se calhar (só se calhar) o que o Vaticano deveria fazer, era estar caladinho! Depois de meter o bedelho na Constituição Europeia - com a história da Matriz cristã e o raio que o parta – agora vem com isto. Se o Vaticano se pronuncia sobre estas matérias, não deverá a Comissão Europeia pronunciar-se sobre teologia, catequese, missas em latim, padres pedófilos, cardeais fumadores, papas que vestem Prada e só dizem absurdos, etc, etc.?

Será que aqueles padrecos balofos, após séculos de distorção da fé Cristã, ainda não perceberam o significado de laicismo do Estado? Eu, como cristão pouco católico, sinto-me ofendido quando, sistematicamente, a Igreja Católica continua a achar-se embaixadora do Ocidente, ou pior, da EU. Para isso temos o Xavier (não o São Francisco, mas sim o Solana)!

Isto até assume uma certa ironia quando o Papa deposita uma coroa de flores no túmulo de Kemal Atatürk, o tal que fundou a Turquia moderna, laicizando-a, proibindo o uso de símbolos religiosos, e substituiu a Lei Sharia por um código civil similar ao Ocidente (julgo que inspirado no da Suiça).

Segundo a Rádio Vaticano, o Bento terá afirmado no seu discurso que: "A missão da Igreja não consiste em defender poderes, nem obter riquezas; a sua missão é a de doar Cristo, de participar da Vida de Cristo, o bem mais precioso do homem que o próprio Deus nos dá em Seu Filho."

Defender poderes, obter riquezas, o quê?

Tenho para comigo uma dúvida existencial: Embora o Vaticano seja uma cidade-estado, uma vez que integra território Italiano, presumo que pertence, por uma espécie de inerência, à EU. Assim sendo, poderemos referendar a sua expulsão da UE?

O mais curioso nisto tudo é que o Vaticano tem mais opinião sobre politica externa que o nosso aprumado Ministro dos Negócios Estrangeiros. Em vésperas de assumirmos a presidência da UE, não seria de esperar umas palavritas do nosso MNE sobre estes assuntos. Será que o homem é mudo?