Por um lado, teatro em forma de vídeo-clip. Teatro-clip do Teatro da garagem.Alguns momentos de encenação interessantes; momentos (raros) de comédia bem conseguidos; e o resto, tudo o resto, um grande onanismo intelectual. A descrição da peça está aqui. Não gostei.
Por outro lado, teatro sob a forma de cinema. A noite já ia ao contrário, restava ir para casa, trabalhar um bocadinho e procurar esperança no baú digital de filmes. Entre o óbvio, o recente e o desconhecido, optei pelo último. Escolhi Vénus. Gosto de partir para um filme assim: só com uma ou outra referência que por um acaso me despertou a curiosidade de o ver. Sem conhecer história, sem conhecer realizador, actores, produtores, avançar para um quase desconhecido na esperança que a surpresa seja positiva. No caso, a única referência do filme era um Óscar (2006) de melhor actor que, segundo alguns, deveria ter ido para Peter O’Toole pela interpretação neste filme.
O filme é Bom. Não é uma obra-prima, nem um filme para permanecer eternamente na memória. É simplesmente – que melhor adjectivo haverá para este filme – um bom filme, cheio de magníficas interpretações.
O humor britânico está presente do princípio ao fim. Pequenas delícias de requinte em diálogos entre os principais personagens idosos* - «estou cansado. Vou fazer uma sesta pré-sesta» - polvilham o filme de uma ternura que nos cria imediata empatia pelos personagens. Haverá algum “vilão” neste filme?
O filme, no seu todo, é enternecedoramente encantador. Contudo, o perturbador e o carinhoso, o grotesco e o enternecedor, a paixão cega e o amor (puro) andam de mãos dadas ao longo de todo o filme. - «Vénus é uma deusa. Cria amor e desejo, o que muita vezes leva os mortais à tolice e desespero. A merda do costume… Para a maioria dos homens, o corpo feminino é a coisa mais bonita que alguma vez verão». Se num momento há algo de repugnante na relação que se cria entre os dois personagens principais, há também algo de dócil e altruísta. Só vendo.
Para mim, o mais fascinante no filme é mesmo o retrato da decrepitude da idade, que rejuvenesce com a beleza e vitalidade de uma Vénus.
No fim, fiquei com a sensação que se o senhor Peter O’Toole não é um dos maiores actores vivos, é porque é o maior mesmo.
(*)
Maurice: [Maurice is clipping Ian's toenail] Keep still. It's not surgery. Ian: I don't trust you.
Maurice: [clips the nail] Got it! A palpable hit!
Ian: But where has the little fucker gone?
Maurice: Who cares? It's free now.
Ian: I can't have my home scattered with toenails.
Maurice: Oh, God. I'll have to get my other glasses.
Ian: They're around your fucking neck.
Maurice: Oh. Thank you.
[puts glasses on, begins to search]
Maurice: Where's that bastard toenail? Ha! There's the little fucker!
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