domingo, outubro 29, 2006

Como é que com tanto se faz tão pouco, e com tão pouco se faz tanto?

Ando a pôr os filmes em dia. Que é como quem diz, ando a ver, pouco a pouco, os filmes recentes de “maior sucesso”, ao mesmo tempo que tento ver ou rever “clássicos”. Na semana passada, uma desilusão (das grandes) e uma surpresa: respectivamente, Broken flowers, de Jim Jarmusch ; e À bout de souffle, de Jean-Luc Godard.

O que é que estes dois filmes têm em comum? Nada, mas tem tudo a ver com o título deste post.

Broken Flowers foi uma desilusão completa.


No final do filme tive que berrar uns nomes feios para o ar (vi o filme em casa, não em sítios públicos). Como é que com tão bons actores, com um argumento tão promissor, com uma produção cuidada, até mesmo com bons pormenores de realização, se faz uma porcaria tão grande? Calculo, que muitos dos leitores (os que eu adivinho que me estão a ler) terão gostado do filme. Pois eu nem achei bom nem mau, achei uma autêntica merda! Não quero desvendar o final do filme, para não o estragar a alguém que ainda faça intenções de o ver, por isso não farei grandes comentários ao mesmo.

Sobre os actores, de facto Bill Murray é excelente a fazer papéis de seres aborrecidos, com a vida, consigo próprio, com o mundo. Seja na "agorafóbica cidade de Tóquio" em Lost in Translation, seja neste Broken flowers. Mas, caramba! Já chateia! Será que este gajo teve mais do que 3 falas por filme desde os Ghostbusters? Se em Lost in Translation havia uma Sofia Coppola para o fazer falar sem ele abrir a boca, no filme de que vos falo Jim Jarmusch não consegue. Chega a ser penoso o quão morto é o personagem e o próprio filme. Aborrece, entedia, mata lentamente até ao ponto de se pensar em tirar o DVD e ver outra coisa. Mas como já referi, o argumento é engraçado e cria expectativas. Mas no final, temos a certeza: devíamos ter tirado o DVD e visto outro filme.
À bout de souffle é a completa antítese.



Um filme sem nenhuma história especial, um fugitivo, porque assassinou um polícia, uma jovem americana, linda, Paris, baixo orçamento, o guião só se concluiu durante as filmagens, filmagens simples, e um grande Filme.

Os actores e as suas falas valem por tudo. A realização, simples, foca-se nas palavras, nos olhares, nos movimentos de lábios, em particular do “gangster” Michel Poiccard (interpretado por Jean-Paul Belmondo).

Ambos os filmes são lentos, parados, algo aborrecidos. Mas neste, chegamos ao fim, e sentimo-nos satisfeitos, cheios de algo, cheios de cinema. Neste, temos vontade de ver (ou rever) Godard, temos vontade de idolatrá-lo e querer mais. Neste filme, percebemos que fazer cinema é não é para quem quer, é para quem sabe.




"Si vous n'aimez pas la mer, si vous n'aimez pas la montagne, si vous n'aimez pas la ville, allez vous faire foutre"
Michel Poiccard
PS: Ao reler este texto, vejo que é evidente um ódio demasiado visceral. Até admiro bastante o Bill e do Jim este é o único filme que conheço. Mas senti-me tão raivoso depois de perder hora e meia a ver esta porcaria que me apeteceu desabafar. Para este ataque súbito de consciência, muito contribuiu a opinião de quem sabe. Kalash, obrigado por me chamares a atenção. Para quando um blogue sobre cinema, com a opinião de quem sabe, ou seja, de quem conhece?

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