sábado, dezembro 02, 2006

Papamóvel demais

O papa foi à Turquia. Rezou virado para Meca. Mostrou a dentuça postiça nuns sorrisos quando alguém gritava “olhó passarinho”. Amenizou o clima de ódio que conseguiu criar no “mundo Muçulmano” depois das palavras proferidas há 3 meses atrás. Deu uns bacalhaus às individualidades importantes do Governo, Igreja Ortodoxa, Muçulmanos. Até aqui muito bem. Mas o Vaticano fez questão de se pronunciar sobre política externa. Manifestou-se a favor da adesão da Turquia à União Europeia. A questão que me parece óbvia, é simples: Mas por que raio anda o Vaticano a pronunciara-se sobre assuntos de politica externa da União Europeia?

Tem direito de o fazer? Claro, tal como qualquer cidadão ou instituição pública ou privada que coabite em democracia, é livre de se expressar como bem entender. Mas, se calhar (só se calhar) o que o Vaticano deveria fazer, era estar caladinho! Depois de meter o bedelho na Constituição Europeia - com a história da Matriz cristã e o raio que o parta – agora vem com isto. Se o Vaticano se pronuncia sobre estas matérias, não deverá a Comissão Europeia pronunciar-se sobre teologia, catequese, missas em latim, padres pedófilos, cardeais fumadores, papas que vestem Prada e só dizem absurdos, etc, etc.?

Será que aqueles padrecos balofos, após séculos de distorção da fé Cristã, ainda não perceberam o significado de laicismo do Estado? Eu, como cristão pouco católico, sinto-me ofendido quando, sistematicamente, a Igreja Católica continua a achar-se embaixadora do Ocidente, ou pior, da EU. Para isso temos o Xavier (não o São Francisco, mas sim o Solana)!

Isto até assume uma certa ironia quando o Papa deposita uma coroa de flores no túmulo de Kemal Atatürk, o tal que fundou a Turquia moderna, laicizando-a, proibindo o uso de símbolos religiosos, e substituiu a Lei Sharia por um código civil similar ao Ocidente (julgo que inspirado no da Suiça).

Segundo a Rádio Vaticano, o Bento terá afirmado no seu discurso que: "A missão da Igreja não consiste em defender poderes, nem obter riquezas; a sua missão é a de doar Cristo, de participar da Vida de Cristo, o bem mais precioso do homem que o próprio Deus nos dá em Seu Filho."

Defender poderes, obter riquezas, o quê?

Tenho para comigo uma dúvida existencial: Embora o Vaticano seja uma cidade-estado, uma vez que integra território Italiano, presumo que pertence, por uma espécie de inerência, à EU. Assim sendo, poderemos referendar a sua expulsão da UE?

O mais curioso nisto tudo é que o Vaticano tem mais opinião sobre politica externa que o nosso aprumado Ministro dos Negócios Estrangeiros. Em vésperas de assumirmos a presidência da UE, não seria de esperar umas palavritas do nosso MNE sobre estes assuntos. Será que o homem é mudo?

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